A mãe que quer amamentar passa por um Halloween que dura enquanto durar a sua amamentação. Neste artigo vais conhecer três maldições. Felizmente, as CAIN estão à distância de um desejo (e de um clique mágico), prontas para ajudar a mãe a quebrar estas maldições.
ACREDITAR QUE COM MAMILOS RASOS/INVERTIDOS NÃO CONSEGUE AMAMENTAR
Quando o bebé não consegue fazer uma sucção efetiva numa mama com mamilos rasos ou invertidos, a culpa é quase automaticamente da ausência de relevo do mamilo. A mãe acredita tanto nesta ideia disseminada pela sociedade que a cultiva desde o início, ainda durante a gravidez. Por vezes, apesar de desejar amamentar, acaba por colocar, aos poucos, esse sonho para segunda plano, porque acredita mesmo nesta maldição.
Isso acontece porque a maioria das mulheres (e até de alguns profissionais de saúde que contactam com grávidas e recém-mamãs) não sabem que o mamilo não é o local exato onde o bebé deve abocanhar, mas sim na aréola da mama, abrangendo uma área maior que apenas a área do mamilo. Apesar de parecer mais fácil o bebé mamar numa mama com mamilo proeminente, não significa que o bebé não consiga pegar corretamente quando o mamilo é raso ou invertido.
Os mamilos rasos ou invertidos não precisam de qualquer utensílio para serem exteriorizados durante a gravidez. Cada um tem o seu formato, a sua coloração, o seu grau de relevo. No caso de mamilo invertido, ocorre um encurtamento do ducto mamário, ou seja, do canal responsável pelo transporte do leite materno. A causa principal é uma má formação congénita que surge no nascimento e acompanha a pessoa ao longo da vida.
O mamilo funciona como um ponto de referência para mostrar ao bebé para que zona da mama se deve direcionar, por isso se torna ainda mais escuro do que inicialmente. O bebé está a aprender, demorará o seu tempo e pode precisar de ser ensinado a mamar melhor.
AMAMENTAR DE 3 EM 3 HORAS
Outra maldição difícil de quebrar é a da periodicidade de dar mama. Amamentar com um intervalo de 3 horas entre mamadas e está feito. Muitas mães passam a gravidez a acreditarem nisto, passam pelos serviços de internamento hospitalar e saem de lá a acreditar nisto, vão aos centros de saúde e continuam a ouvir isto. Esta informação continua a não ser contextualizada nem corrigida.
O contrafeitiço é muito simples de aplicar, mas, por vezes, não tão fácil de entender. O contrafeitiço chama-se livre demanda, sem horas definidas para mamar, amamentar quando o bebé demonstrar sinais de fome. O entendimento da real fundamentação da questão acontece quando se percebe a distinção entre os tipos de leite: leite materno e leite artificial.
O leite artificial é mais pesado, demora mais tempo a ser processado pelo sistema gastrointestinal do bebé que se está a adaptar a este novo alimento. Para além de que, habitualmente, o bebé ingere maior quantidade de leite artificial do que realmente necessita. Neste contexto, oferece-se o leite artificial de 3 em 3 horas, sim.
Se for um bebé que alimentado com leite materno, é completamente diferente. Porque o leite materno é mais leve e de fácil digestão. Por isso, o bebé necessitará de comer antes desse intervalo de 3 horas. Mas também vai depender da mamada anterior, e das necessidades nutricionais e hídricas que não são iguais em todos os momentos de vida do bebé. Daí a solução ser livre demanda.
INTRODUZIR SUPLEMENTO DE LEITE ARTIFICIAL SEM PLANO PARA RETIRAR
Muitas vezes decorrente das duas maldições anteriores - acreditar que não consegue amamentar com mamilos rasos/invertidos ou amamentar apenas de 3 em 3 horas - a mãe pode ser alvo de outra maldição. Outras vezes, nada tem a ver com as maldições anteriores, e continuamos a assistir à introdução de suplemento de leite artificial sem haver um plano para o retirar posteriormente.
Essa introdução de suplemento pode ser realmente necessária à saúde e bem-estar do bebé, essa questão só pode ser devidamente analisada caso a caso e com toda a informação. Não é isso que está em causa. O fato é que, ao ser introduzido suplementação com leite artificial, e se a mãe quiser amamentar o seu filho, ela tem o direito de orientar o seu percurso de amamentação para que isso aconteça, sempre com a prioridade da saúde do bebé.
Se a mãe quer amamentar e está a oferecer leite artificial ao seu bebé, esta mãe tem que ser obrigatoriamente e devidamente acompanhada, para segurança de ambos. Não se pode deixar de oferecer leite artificial de um dia para o outro. Não se pode comprometer a evolução de peso do bebé. Não se pode comprometer o seu desenvolvimento. O que acontece é que, às vezes, estes medos são incutidos nas mães pelas pessoas que as rodeiam (familiares, amigos e até mesmo profissionais de saúde) e acabam por desistir da amamentação que tanto sonharam. A pressão é imensa.
Depois, a médio e longo prazo o resultado é o que assistimos muitas vezes nos nossos acompanhamentos: bebé empanturrado com leite artificial até às orelhas, dorme longas horas para alegria e descanso dos pais, o bebé não dá sinais de fome, não vai à mama, surgem situações de ingurgitamento mamário e mastites, não há estimulação adequada na mama, a produção de leite materno diminui, e começa o desmame precoce sem que seja esse o desejo da mãe.
Deixar a mãe decidir sem pressões e com informação fidedigna deveria ser a base de tudo. Esclarecer a situação do formato dos mamilos da mãe. Desconstruir a falsa ideia de amamentar em intervalos de trê horas. Oferecer suplemento de leite artificial? Ok. Mas sempre com plano para o retirar posteriormente, acompanhando a evolução da dupla mãe/bebé por um profissional especializado na área da amamentação. São maldições em que a intervenção da CAIN é essencial para as quebrar.
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