MAS, AFINAL, O QUE É UMA CAIN?

MAS, AFINAL, O QUE É UMA CAIN?

A sigla CAIN significa Consultora de Alimentação Infantil Natural. A alimentação do bebé não se restringe ao leite, continua com a introdução de alimentos complementares. Por isso, este termo abrange não só a área do aleitamento materno, como também a posterior introdução alimentar.


Para esclarecer, existem vários profissionais devidamente qualificados na área, os quais têm diferentes nomenclaturas: CAM (Conselheira em Aleitamento Materno), CAIN (Consultora de Alimentação Infantil Natural), AS (Assessora de Lactação), IBCLC (Consultora de Lactação Certificada pelo International Board of Lactation Consultant Examiners).


Eu, por exemplo, comecei por fazer a formação de CAM e, atualmente, sou IBCLC e criei a única Certificação CAIN em Portugal que forma profissionais de excelência na área da alimentação infantil natural.

Depois da amamentação exclusiva até aos seis meses de idade do bebé, de acordo com as recomendações da Organização Mundial de Saúde, vem a fase de introdução dos sólidos.


Esta é uma etapa muito importante, talvez mais do que parece à primeira vista. Ao introduzirmos os sólidos mediante as reais necessidades do bebé, consoante as quantidades de alimento que o bebé aceita, estamos a respeita-lo, a alimentá-lo em livre demanda, tal como acontece na amamentação.


Não será um contra-senso praticar a livre demanda com o leite materno, assumir que o organismo do recém-nascido manifesta a fome quando necessário; mas depois, não aplicar a livre demanda na introdução da alimentação complementar, como se o organismo do bebé, seis meses depois, já não reconhecesse quando está satisfeito e quando tem fome?


Além de que estamos, também, a preparar o adulto do futuro para uma alimentação equilibrada e saudável. O objetivo da introdução alimentar é criar uma boa relação com a comida. Sendo que a amamentação está sempre interligada, pois o leite materno é o principal alimento do bebé até ao 1º ano de vida do bebé, não me fazia sentido desassociar uma coisa da outra.

É por isso que abordo ambas as componentes na Certificação CAIN.


QUE TIPO DE TRABALHO FAZ? QUANDO O FAZ?


A CAIN auxilia a mãe, o bebé e o pai nesta nova aventura. Identifica os problemas e fornece as ferramentas, segundo as orientações nacionais e internacionais sobre os mais diversos temas, para que a família consiga lidar com a amamentação e a introdução alimentar de uma forma mais informada e tranquila.


Podes achar que este tipo de profissional apenas trabalha com famílias que já tenham o bebé nos braços, pois a amamentação inicia-se quando o bebé começa a mamar. Mas não. Posso-te garantir, de acordo com a minha experiência de mais de sete anos de atendimentos, que não é somente nessa altura que a mãe deve recorrer a uma CAIN.

A partir de quando a mãe deve, então, ser guiada pela CAIN?


Esta resposta não deixa de ser pessoal, e pode variar de mãe para mãe. Mas, idealmente, quanto mais precocemente for requerida a ajuda, melhor. Nas situações em que já houver uma complicação estabelecida, quanto mais cedo se actuar sobre ela, maiores serão as hipóteses de uma resolução bem sucedida.

Portanto, a minha resposta é: o quanto antes!


A melhor altura é mesmo ainda na gravidez, antes do nascimento do bebé. Se existe uma preparação para o parto, porque não haver também uma preparação para a amamentação? Se se tenta planear um momento medicamente assistido como o parto, porque não preparar - não só a mãe, como toda a família – para uma fase tão exigente, que pode durar tanto tempo e na qual, habitualmente e infelizmente, a mãe está “por sua conta”?


Apesar de cansativo, a mãe estará melhor informada e terá as ferramentas certas para ultrapassar os obstáculos que poder encontrar e conseguir a amamentação com que tanto sonha. Perceberá a importância do contacto pele a pele logo após o nascimento, e poderá incluir essa indicação no plano de parto, por exemplo.

Uma CAIN oferece ajuda profissional em casos de:


- Dor associada à amamentação

Amamentar não é suposto ser doloroso. Não é normal doer. Um pouco de sensibilidade é aceitável no inicio, mas dor não é normal. Se existir dor, significa que algo não está bem e necessita ser devidamente avaliado.


- Mamilos gretados ou feridos

Normalmente são o resultado de o bebé não pegar bem na mama. A mãe pode usar alguns cremes e acessórios para acelerar a cicatrização dessas fissuras, e resolver a questão por ali, mas se não actuar na causa, provavelmente este cenário irá repetir-se.


- Incerteza se o bebé abocanha bem

Muitos profissionais de saúde poderão afirmar que o bebé faz uma boa pega, mas o que significa, realmente, fazer uma boa pega e como avaliar? Considerando que uma pega incorrecta pode interferir com o ganho de peso do bebé, e com o futuro na amamentação, é um ponto bastante importante.


- Ingurgitamento mamário

É muito comum ocorrer nos primeiros tempos após o nascimento do bebé. A produção do leite ainda não está estabilizada e o corpo não sabe bem que quantidade produzir, então produz muito, para que “nada falte” ao bebé. É uma situação muito desconfortável e que pode influenciar negativamente a amamentação se não for bem gerida.


- Difícil ganho de peso do bebé

Nestes casos a rotina do bebé é meticulosamente seguida e é feito um acompanhamento rigoroso para garantir que ele seja bem alimentado, porque a saúde e segurança do bebé é prioridade. Antes da introdução advertida de leite artificial na alimentação do bebé, é verificada a real necessidade de isso acontecer e, se assim se constatar, também é avaliada a forma como esse leite artificial lhe é oferecido, para não comprometer a amamentação.


- Preocupações com a produção de leite

O facto de o bebé querer estar sempre na mama, de não ter um aumento de peso considerável, de ser muito chorão ou simplesmente devido a comentários de terceiros, pode induzir a família a pensar que o leite materno não é suficiente, e procurar formas de aumentar a produção de leite. Para segurança da mãe e do bebé, cada situação deve ser verificada individualmente.


- Ductos entupidos, mastites, e outras condições específicas

Podem ocorrer em qualquer fase da amamentação. São situações que a mãe pode não conseguir identificar precocemente, mas se for observada por um profissional da área ao primeiro sinal, terá maior probabilidade de melhor desfecho.


- Situações da ausência da mãe

A mãe pode-se ausentar e não lhe ser possível amamentar o bebé, pontualmente, como em caso de cirurgia, por exemplo. Outra situação inevitável é o regresso da mãe ao trabalho, coincidindo ou não, com o início da creche, da ida do bebé para a ama ou ao cuidado de algum familiar. Para a mãe que deseja continuar a amamentação mesmo na sua ausência, é importante preparar toda a rede de cuidadores do bebé.


- Introdução da alimentação complementar

Muitas vezes, as famílias não conhecem diferentes abordagens de introdução alimentar, nem sabem que a forma mais natural, respeitando e acompanhando o desenvolvimento do bebé, é o Baby Lead Weaning (BLW). Aos pais é passada a informação de como avaliar os sinais de prontidão do bebé para a introdução da alimentação complementar, são abordadas alergias alimentares e as técnicas a aplicar na prática.



A PARTE PSICOLÓGICA DO CLIENTE E DO PROFISSIONAL


O apoio da CAIN revê-se física e psicologicamente na mãe.

Se considerares que a prolactina é a hormona responsável pela produção de leite, e é regulada pela sucção, pega e frequência das mamadas do bebé; e que a ocitocina é a hormona responsável pela saída do leite, regulada por fatores emocionais maternos; que aumenta em situações de confiança e serenidade, e que pode diminuir em momentos de ansiedade e insegurança; compreendes, então, que é extremamente importante a mãe estar calma e confiante.


Durante a introdução da alimentação complementar, a confiança e a segurança da mãe e de toda a família é transmitida ao bebé, e facilitará o processo de transição para todos os envolvidos.



Receber apoio e indicações credíveis e adequadas a cada situação distinta, é essencial para a mãe se sentir bem, confiante, calma e segura. O benefício será a maior probabilidade de uma amamentação e introdução alimentar complementar bem-sucedida.



Profissionalmente para a CAIN, a satisfação sentida ao ajudar aquele bebé, aquela mãe, aquela família, é inexplicável. Com o feedback que recebes e o crescimento saudável do bebé, sentes que fizeste, realmente, diferença na vida de alguém. Essa diferença não tem preço.



Terça-feira, 16 de maio de 2023

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